Quem leu a matéria do economista, administrador e cientista político Gustavo Ioschpe na revista Veja, indignou-se com esse pseudo especialista em educação. Mas tem gente achando que o tal, por deter títulos, está certo. OK, título por título, sou artista plástica, escritora, atriz, formanda na área de TI, formada em Geografia e com muito orgulho, professora de escola pública, que vai às ruas em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade há mais de 30 anos. Não por esporte, compaixão por alunos e professores, e sim por responsabilidade com a sociedade brasileira. Afinal se os educadores desse país não fossem tão importantes, se o conhecimento não gerasse poder, a mídia que serve ao empresariado e aos políticos corruptos cujas campanhas são bancadas por uma classe que detém a maior parte do PIB nacional, apoiariam a igualdade para todos os jovens desse país. Coisa que não fazem!
Não sei quantas vezes o tal jornalista pegou ônibus cheio ou barco, colocando os pés em escolas públicas totalmente desestruturadas para dar aulas com dedicação, ainda que recebendo um salário vergonhoso. Creio que se botou o luxuoso sapato num recinto desses, tirou assim que pode. Também acredito que ele não saiba o significado real de pobreza, até por ser tão pobre de argumentos e pensamentos (prefiro não dizer caráter, por não conhecê-lo pessoalmente). Provavelmente nunca precisou de sindicato ou de caminhar sob o Sol pedindo respeito, cidadania, escolas equipadas para que profissionais dêem aulas inovadoras e gratificantes. Escrever para revistas desacreditadas como a Veja, deve ser mais fácil ou lucrativo. Ainda que seja para atacar toda uma categoria de trabalhadores.
"Vocês foram gananciosos demais. Os 10% do PIB e os royalties do pré-sal serão a danação de vocês."
Os 10% do pré-sal para a educação, em um país com a extensão territorial do Brasil e uma imensa população de analfabetos funcionais nos municípios maiores ou analfabetos absolutos no campo e localidades de difícil acesso, requer muito investimento. Nós não temos o tamanho da França, de Cuba ou de algumas nações poderosas, mas somos ricos em minérios, petróleo, recursos naturais e o interesse real desses indignos administradores do dinheiro público, vendidos ao capital internacional, é o de entregar o país, coisa que gente decente jamais faria. O fato de termos sido colônia de exploração colaborou para o subdesenvolvimento e submissão ao FMI por tantos anos. Porém o coronelismo, a política do Café com Leite, o descompromisso de uma classe política com a população, o Golpe Militar e o desenvolvimento do Brasil no sentido mais amplo, barrou avanços. Nos fez escravos. Cavou um túmulo para o futuro dos jovens brasileiros. Criou um apartheid educacional aprofundando as diferenças entre as classes sociais e mesmo entre as raças e gêneros. Exagero? Não! Quem nasce miserável ou pobre, acaba acreditando que é impossível vencer, pois passa a vida lutando para sobreviver. Dar um futuro diferente para os filhos famintos de tudo, é algo que só entende quem já passou por essa situação. É um sonho que nasce destruído. Porém, para os ladrões de almas, de destinos, que andam engravatados em espaços diferentes, dar uma moeda, posar de bonzinho, fazer promessas em palanques ou até pisar em quem já está na lama, é lucro. Ganham votos!
"Aí esses pais, e a mídia, vão finalmente querer entrar nas escolas para entender como é possível investirmos tanto e colhermos tão pouco."
Opa! Que venham todos para a escola ver de perto o que alunos, funcionários, gestores e pais tem! A triste realidade da escola pública. O que há de verdade nesse país é membros do Executivo corruptos, que desviam as verbas da educação e isso sim, é caso de polícia! Mas parece que no momento, o desrespeito a Constituição Federal, LDB, FUNDEB, é apoiado por alguns juristas que fazem pares com políticos bandidos. Os mesmos que a Revista Veja e a Rede Globo defenderam e hoje estão envolvidos até o pescoço no mar de lama dos golpes aplicados contra a nação, a exemplo da Lava-Jato. História abafadas como a do Helicoca, apontam como o tráfico ocorre. O mesmo tráfico que recruta jovens que estão fora das escolas desmanteladas que lhes oferecem.
"Verão a quantidade abismal de professores que faltam ao trabalho, que não prescrevem nem corrigem dever de casa, que passam o tempo de aula lendo jornal ou em rede social ou, no melhor dos casos, enchendo o quadro-negro de conteúdo para aluno copiar, como se isso fosse aula. E então vocês serão cobrados. Muito cobrados. Mas, como terão passado décadas apenas pedindo mais, em vez de buscar qualificação, não conseguirão entregar."
Abismal é a diferença salarial entre educadores e políticos. Abismal é a diferença entre o tempo de contribuição de um trabalhador e de um político e o período em que cada um se aposenta. Abismal é a diferença entre a escola oferecida aos filhos da elite e a escola pública. Abismal é o número de vereadores e deputados que faltam sessões de interesse do povo. Abismal é a quantidade de professores e funcionários que chegam na metade do mês sem dinheiro pra se deslocar até o trabalham, mas ainda assim não faltam. Ora, caro jornalista da Veja, abismal é ter tantos títulos e não conhecer nada! Somos cobrados o tempo todo e prestamos conta. Nas escolas públicas, acessar redes sociais é quase impossível, pois nem todas tem internet que também ajudaria na melhoria das aulas. O quadro é na maioria das vezes o único recurso oferecido e há quem faça milagres em sala. Gustavo, seja obrigado a trabalhar dia e noite para sobreviver, corrija avaliações aos finais de semana e consiga bancar uma pós ou mestrado! A realidade é bem diferente desse discurso raivoso contra os professores. O Brasil não é formado por metrópoles e sim por pequenas cidades do interior onde as escolas ficam muito distantes.
Pois o jornalismo da Veja também será cobrado, muito cobrado. Os educadores não deixarão essa história passar em branco. Sabemos que esse é um acordo com o atual governo para sucatear a educação pública, destruir o pouco que conseguimos com muita luta. Com o apoio de políticos que enfrentaram uma maioria arrogante, vendida a grupos e sem responsabilidade com os eleitores.
Meu discurso é gasto, cansativo, usado por anos? O seu também. Aliás, o seu cheira ao velho defunto da ditadura. O negócio é que estamos em lados opostos. Eu não destilo veneno em trabalhador. Quero sim é que meus alunos e de outros colegas que dão um duro danado, sejam profissionais de sucesso, certamente bem melhores que os jornalistas da Veja.